Um pouco antes de começar o processo de composição das faixas desse EP, eu decidi focar em desenvolver minhas composições instrumentais. Mesmo sabendo o quão inóspita e também desvalorizada é a área da música instrumental, não pude deixar de seguir por esse caminho, já que, na minha percepção, canções sem palavras muitas vezes falam mais do que músicas com letra e deixam abertas as possibilidades de interpretação. Ninguém lhe diz sobre o que é aquela composição; você só precisa se deixar levar pela música e ir para os lugares aonde ela o conduzir e onde você se permitir ser levado.
Dito isso, resolvi escrever um breve comentário sobre cada uma das faixas do EP: Evaporar v1 e v2 "Evaporar" é a faixa que abre e a que fecha o EP, em duas versões, para mostrar como a mesma composição pode assumir roupagens variadas e trazer sensações diferentes. "Evaporar v1" é mais doce, mais solar; seu arranjo privilegia um jogo de perguntas e respostas entre os mesmos instrumentos, quase como um diálogo interno, no qual uma linha melódica às vezes responde à outra, às vezes questiona, mas sempre segue dialogando. Já a v2 é um pouco mais sombria, e esse diálogo se aproxima mais de questionamentos do que de certezas. Nela, as mesmas linhas da v1 são utilizadas, porém tocadas por instrumentos diferentes, o que resulta em texturas mais intensas.
A segunda faixa é “Ver o sol por trás das nuvens” e tenta retratar as diferenças de luz nesses dias em que a presença das nuvens ofusca o sol, e a movimentação delas faz com que ele ora brilhe mais forte, ora se esconda. Eu adoro dias assim e sempre acho que é uma maneira que o mundo tem de dizer que, mesmo que sua vida não esteja radiante nesse momento, uma hora as nuvens passam e o sol volta a brilhar.
A terceira faixa é “Quando Magma vira Lava” e, nela, fui atrás da sensação de busca constante, apoiada por uma sequência de arpejos que se repete durante toda a composição. O magma vira lava quando sai das entranhas da terra, em geral através de uma erupção vulcânica e, embora esse fenômeno tenha potencial destrutivo, ele também tem potencial de criação e de regeneração. Busquei representar essa multiplicidade de visões através do arranjo e da interpretação de cada linha.
Os nomes das músicas do EP “Breve compilado de músicas para _______” representam transformações de estados físicos. Na época em que essas músicas foram compostas e gravadas, o mundo inteiro passava por uma pandemia, e eu me dei conta de que a transformação não é um evento isolado na vida, mas, na verdade, um estado contínuo.